v. 77 n. 306 (2017): Corpo e Religião

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Apresentação

Corpo e Religião. Este é o tema-guarda-chuva deste número da REB. Evidentemente, uma temática ampla e multifacetária. Temos corpo; somos corpo. Corpo físico, corpo objeto; corpo, meio de relações, corpo-relação, corpo “humano”, ou seja, portador e aberto a um mistério que o transcende. A proposta da relação corpo-religião é um recorte seletivo. Mesmo assim, não está na intenção da Redação oferecer uma abordagem sistemática, abrangente, sintética. Nem mesmo se ater à relação corpo-religião, pois acolhe contribuições que não se encaixam bem nesse eixo. Mesmo assim, imaginamos que o assunto seja de interesse, como o demonstra o atual cuidado que se tem pelo corpo, cuidado que, além de dimensões estéticas e sociais, remete a dimensões a que se alude, quando se relaciona corpo e religião. Apontar aspectos que ressaltem a beleza e a implicação do cuidado com o corpo e seu destino perfaz a intenção dos autores que recheiam este número da REB.

Ari Pedro Oro e Marcelo Tadvald observam como o corpo é agenciado em três expressões religiosas em nosso país: o evangelismo enquanto manifestado pela Igreja Universal do Reino de Deus, o espiritismo kardecista e as religiões de matriz africana. São multifacetárias as manifestações corporais, o que aponta para diferentes universos de entendimento do corpo e de sua relação religiosa e dá a entender que a diversidade não é exclusiva destas três expressões religiosas, mas abrande a todas. Portanto, sugere-se que não há uma única manifestação corporal do sagrado nem uma que seja proeminente.

Paulo Franco Taitson e Jean Richard Lopes apresentam a fragilidade corporal, patente em ambientes hospitalares, onde também se manifesta a corporeidade, ou seja, o conjunto de relações implicadas quando está em causa a integridade e a sobrevivência física. Nesse contexto, ressaltam a importância do que denominam “diaconia da caridade ao corpo”, oferecida pela pastoral hospitalar.

Leo Pessini relaciona pós-humanismo do século XXI com bioética. Estaríamos diante de um novo ser humano, pergunta? Para ele, é preciso equilibrar razão instrumental e razão cordial, no trato do corpo. Este equilíbrio se resumiria idealmente no cuidado, pois tudo quanto cuidamos amamos, e tudo quanto amamos cuidamos. E a atitude amorosa articula o humano do ser humano.

Eduardo Hoornaert resgata a positividade da teologia do corpo em Orígenes. Orígenes é porta-voz da antropologia semita, diferente da antropologia platônica, de origem grega, que fez história na teologia e na pastoral do Ocidente. Orígenes propala, pois, a positividade do corpo e da sexualidade humana.

Elismar Alves dos Santos e Pedrinho Arcides Guareschi, por sua vez, relacionam, numa pesquisa de campo, representações sociais da homossexualidade com o ensinamento do Magistério eclesiástico sobre o assunto. Advogam a necessidade de investimento no diálogo sobre a homossexualidade nos seminários.

Rogério Luiz de Souza aborda representações do corpo, não estritamente na relação com a religião, mas na relação com ideais de eugenia e miscigenação, num determinado período, local e circunstância história no Brasil.

Enfim, Cleto Caliman e Renato Alves de Oliveira, estudando do capítulo VII da Lumen Gentium, articulam a índole escatológica da Igreja. Poderia-se aplicar esta dimensão também ao ser humano em geral, envolvendo sua existência física, corporal, histórica.

Elói Dionísio Piva ofm

Redator

Publicado: 2017-08-07