Vol. 70 N.º 280 (2010): Caritas in Veritate: ética e capital
Hoje, na sociedade tecnológica, torna-se cada vez mais habitual dispor de grande volume de informação em tempo real. Quantidade, velocidade e alta rotatividade induzem a considerar a informação como mais um produto de consumo. Até a recente turbulência do capitalismo financeiro, evidenciada a da segunda metade de 2008, pode estar sujeita à voragem do esquecimento, apesar de sua origem e de seus desdobramentos complexos. Contudo, seria uma pena, se ela deixasse de ser objeto de reflexão. Mesmo que ela venha a ser superada, ainda caberia certamente a pergunta pela natureza do equacionamento, pela relação entre ética e capital que se restabelece, pelas perspectivas de futuro que se abrem para a humanidade. À semelhança de outras crises, esta ofereceu e pode continuar oferecendo preciosa oportunidade para se questionar a hegemonia do capital, a especulação financeira, o acúmulo de bens materiais. Ela oferece ocasião propícia para se repensar e reafirmar paradigmas fundamentais como o trabalho, a cooperação, a gratuidade, a justiça, o cuidado, a participação política, a ética. No intuito, pois, de pensar o sentido da atividade humana, a Igreja católica, através de Bento XVI, com a Encíclica Caritas in veritate, participa da busca e da proposição de caminhos socialmente saudáveis e ecológicos para o presente e o futuro bem-estar da humanidade, particularmente por quanto lhe advém da atividade produtiva e comercial. Ela contribui, também deste modo, para a afirmação da autonomia humana em relação à sua própria atividade e aos bens da criação, e aponta para o sentido último da existência. José Odelso Schneider e Élio Estanislau Gasda repropõem as razões da Encíclica Caritas in veritate. Vale conferir!
Na mesma linha, Nicolau João Bakker e Antônio Aparecido Alves retomam, cada um a seu modo, a pertinência da relação entre fé e política na ação eclesial. Em contraposição a certa tendência intimista, os autores mantêm viva a necessidade da correlação ou da integração destes dois campos na ação evangelizadora da Igreja. Também aqui vale a pena refletir para agir de maneira sábia, distinta e integrante.
Benedito Ferraro, por sua vez, evidencia a cristologia presente na Conferência de Aparecida: o cristianismo se refere a Jesus Cristo, proclama-o como verdadeiro Deus e verdadeiro homem, como sentido da história humana, como Caminho, Verdade e Vida, como rosto humano de Deus e rosto divino do homem (Bento XVI – cf. DAp 392). Incentivar e provocar a tradução prática desta proclamação central da fé na realidade social da América Latina e do Caribe pelos discípulos e missionários de Jesus Cristo é o intuito do Autor.
Retomando a apresentação de valores humanos e cristãos básicos a partir de Cristo, Marcal Maçaneiro, exalta a agir misericordioso como a característica humana e eclesial mais representativa e ideal, ganhando contornos de carisma, missão e testemunho.
Por fim, Ernando Luiz Teixeira de Carvalho, focando um dos mais criativos, dedicados e inseridos padres da história do Brasil, o Padre Ibiapina, realça que ele buscou a participação de leigos em atividades de promoção social no Nordeste brasileiro e contou com ela. Um permanente incentivo ao protagonismo do Povo de Deus na promoção humana, contemplada a diversidade de seus membros e das conjunturas sociais!
Que transpareça o binômio amor e verdade!
Elói Dionísio Piva ofm
Redator