Vol. 63 N.º 249 (2003): Carência e Amor

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Temos a grata satisfação de ressaltar neste primeiro fascículo de 2003 a contribuição humana, eclesial e teológica feminina. Esta contribuição faz parte, diríamos, das mudanças socioculturais da sociedade humana, particularmente no Ocidente, já notadas e saudadas no início da década de 60 pelo saudoso Papa João XXIII. Ele citava a emergência social da mulher como um sinal dos tempos. Com efeito, a progressiva superação de marcas patriarcais, machistas, quiriárquicas, entre outras, aponta para perspectivas de esperança em todas as manifestações humanas, portanto, também na diversidade e originalidade da reflexão teológico-pastoral da Igreja Católica. Apresentamos, pois, com muito prazer, à consideração do/a leitor/a da REB o testemunho e a reflexão de Hadwig Ana Maria Müller. Alemã, optou por fazer, temporariamente, uma experiência eclesial em contextos socioculturais de periferia urbana e de regiões do interior brasileiros. Com aguçada observação e afinado “ouvido”, concomitantemente a carências e expropriações constatadas entre os pobres, registra tocante riqueza no relacionamento humano-eclesial. Auxiliada pelos estudos de Lacan a respeito da falta (no sentido de carência, ausência de) ela constata, também a nível teológico, que a pessoa que ama silencia, ouve e se deixa tocar e movimentar tanto pela carência alheia quanto pela própria. Assim é que o estado de carência, em todos os níveis – portanto, também a fome e sede de Deus –, bate à porta do amor que, por sua vez já tendo-se adiantado, reverente, a visita. Esta situação de fundo ou esta compreensão antropológica dinamiza as relações humanas e confere à Igreja sentido de comunhão trinitária e inspiração ministerial.

Maria Clara L. Bingemer, em outro nível que não o das relações vitais imediatas, traçaumpanoramadaatualsituaçãodamulhernaIgrejaCatólica.Partindodasperspectivasdelineadas pelo Concílio Vaticano II e percorrendo pronunciamentos eclesiais posteriores, traça uma linha evolutiva, assinala alguns pontos do atual debate envolvendo questões de gênero, bem como o rico aporte teológico-pastoral trazido pelas mulheres na atualidade.

Luiz da Rosa, tendo por base a análise de passagens bíblicas, os últimos estudos arqueológico-bíblicos e a produção literária extrabíblica no antigo Oriente Médio, percorre a evolução do povo da Antiga Aliança rumo ao monoteísmo. Esta evolução aconteceu em circunstâncias históricas específicas e, como se trata de um contínuo caminhar humano, também nos diz respeito.

A idade e, sobretudo, a experiência pessoal provocada pela doença e por situações-limite levaram o ex - e benemérito redator da REB, Boaventura Kloppenburg, a partilhar suas considerações teológicas a respeito da velhice. Partilha oportuna, tanto em relação à Campanha da Fraternidade deste ano, centrada na relação Fraternidade-Idosos, como também em relação à natural fase da vida de muitos leitores da REB ou em relação a pessoas idosas com quem nos relacionamos ou que encontramos em atividades pastorais.

Adriano Sella se faz sentinela da relação entre Evangelização e dimensão sociotransformadora. Esta dimensão – recorda –é constitutiva da Evangelização, não opcional. Assim, ou o anúncio da Boa-Nova de Jesus Cristo, por palavras e atividades, pressupõe eleva à transformação social, no sentido dos valores do Reino, ou não é anúncio de Jesus Cristo!

A permanente necessidade de, na prática pastoral, estar atentos à transformação sociocultural urbana é percebida e tematizada por Celso Pinto Carias. Com efeito, o anúncio da Boa-Nova de Jesus Cristo deve estar sempre dialogicamente sintonizado tanto com o jeito ou sensibilidade cultural de quem anuncia como de quem ouve.

Hubert Lepargneur afirma que a maior consciência e sensibilidade da sociedade atual por situações de risco ainda não recebeu a correspondente atenção da Teologia Moral. Uma vez que em toda situação de risco se desenha uma dimensão ética, sua indagação representa relevante aporte para o desenvolvimento de orientações ético-morais adequadas.

Que a reflexão a partir da fé em Jesus Cristo, a partir e sobre modalidades e desafios do contexto sociocultural e eclesial da atualidade, potencialize e qualifique a evangelização.

Elói Dionísio Piva, ofm

Redator

Publicado: 2003-06-25

Artigos

  • Paixão da relação – paixão da falta

    Hadwig Ana Maria Müller
    5-22
    DOI: https://doi.org/10.29386/reb.v63i249.1827
  • A mulher na Igreja hoje. A partir e além do Concílio Vaticano II

    Maria Clara Lucchetti Bingemer
    23-46
    DOI: https://doi.org/10.29386/reb.v63i249.1828
  • De Baal a Yhwh. Ensaio sobre a Religião de Israel

    Luiz da Rosa
    47-66
    DOI: https://doi.org/10.29386/reb.v63i249.1829
  • Teologizando para idosos

    Boaventura Kloppenburg
    67-78
    DOI: https://doi.org/10.29386/reb.v63i249.1830
  • Dimensão sociotransformadora da evangelização. Constitutiva ou integrante?

    Adriano Sella
    79-91
    DOI: https://doi.org/10.29386/reb.v63i249.1834
  • A boa-notícia de Jesus Cristo e a cultura urbana atual Perspectivas

    Celso Pinto Carias
    92-107
    DOI: https://doi.org/10.29386/reb.v63i249.1835
  • O risco como indagação moral

    Hubert Lepargneur
    108-126
    DOI: https://doi.org/10.29386/reb.v63i249.1833

Comunicados

  • EDUCAFRO: Franciscanos em pré-vestibulares comunitários

    David Raimundo dos Santos
    127-135
    DOI: https://doi.org/10.29386/reb.v63i249.1836
  • A Comissão Bíblica e a Bíblia na Igreja

    Ney Brasil Pereira
    136-142
    DOI: https://doi.org/10.29386/reb.v63i249.1837
  • Trabalho e responsabilidade social

    Nilo Agostini
    143-147
    DOI: https://doi.org/10.29386/reb.v63i249.1838
  • “Criador e Pai”: Maneira preferida de Dom Hélder referir-se a Deus

    Zildo Barbosa Rocha
    148-161
    DOI: https://doi.org/10.29386/reb.v63i249.1839
  • Uma prova textual da exegese simbólica do número 666

    Adylson Valdez
    162-165
    DOI: https://doi.org/10.29386/reb.v63i249.1840