v. 65 n. 259 (2005): Religião e pós-modernidade
Para alguns é surpresa, para outros é óbvio que aqui e acolá, na sociedade de cultura ocidental apareçam questões tais como: “sim” ou “não” ao uso público de símbolos religiosos, como crucifixos ou véus, ou que se construam aqui um templo budista, ou acolá, uma mesquita em meio a edifícios de culto cristão. Surpresa ou não, o que parece certo é que algumas obviedades vão sendo desfeitas com o surgimento de novas fronteiras culturais. Normalmente pluralismo substitui uniformismo, sempre obviamente com uma pitada de relativização. Neste quadro, Hubert Lepargneur traz à discussão a temática da formação e da informação no âmbito da relação entre religiosidade e pós-modernidade. O que antes, no Ocidente, parecia uma conquista irreversível – a secularização –, já não é hoje tão evidente. Ou seja, recolocam-se em discussão os fundamentos dos valores que orientam a convivência social. Assim, reaparece que a função do Estado seja a de promover e possibilitar informação religiosa, mostrar o fato religioso como componente óbvio da cultura humana e encontrar denominadores éticos comuns que embasem o viverem sociedade. Às igrejas e a outras denominações religiosas, dar formação religiosa, ou seja, construir convicções de vida sobre uma fé, a partir da livre escolha da pessoa. Qual a relação entre as partes nestas tarefas? A discussão está em aberto...
O transcurso, no final deste ano, dos 40 anos do encerramento do Concílio Vaticano II, nos oferece ocasião para um balanço e nos lança à sondagem de perspectivas. Manoel Godoy tomou para si a tarefa de fazer um ensaio neste sentido e, ao final, o que ele nos comunica é uma constatação e uma inquietação. A constatação é a de que o Vaticano II foi uma inspiração do Espírito Santo, que o bom Papa João XXIII acolheu e propôs à Igreja católica para que ela restabelecesse o diálogo com as pessoas de uma sociedade secularizada. A inquietação é a de que, hoje, já não basta esta premissa, porque a tônica estabelecida pelo conviver marcadamente pluralista da cultura atual já não cabe no secularismo, mas se encontra em busca de novos paradigmas. Em que condições se encontra hoje a Igreja católica para que se possa ter esperança de que ela corresponda adequadamente a esta demanda, mesmo se o Espírito sopra onde, quando e como quer?
Evidentemente, as relações humanas são marcadas pelo sujeito das mesmas: o ser humano, individualmente e enquanto pessoa. A ele cabe a tarefa de gerenciar – e isto se reflete diretamente em sua ação social – o fascínio que o poder exerce sobre ele, poder que lhe confere não poucas possibilidades como também lhe prepara não poucas armadilhas. As tentações e as possibilidades do exercício do poder são, pois, o tema, fascinante e provocador, de Afonso Murad. É um assunto que interessa a todos, de uma forma ou de outra, dentro ou fora de instituições religiosas, mas sobretudo a quem cabe uma maior fatia no exercício de funções que impliquem tomadas de decisão, estabelecimento de rumos.
Em seguida, dois ensaios recordam o que o sonho de uma Igreja renovada pela revisitação das fontes e presente, como fermento dialogante, em todas as esferas da atividade humana pode desencadear. Especificamente, é-nos oferecida a chance de considerar a recepção do Vaticano II em regiões de fronteira civilizatória e cristã, especificamente nas regiões brasileiras do Maranhão e do Centro-Oeste, e a recepção e a divulgação do evento conciliar pelos franciscanos de Petrópolis, na década de 60. Esta “garimpagem” nos sugere o “toque” e a busca de uma “paixão” evangélica, cujas características se manifestam no exercício da missão.
A Redação da REB deseja às leitoras e aos leitores destes ensaios que a fé lhes seja alimentada e a ação, evangelicamente qualificada.
Elói Dionísio Piva ofm
Redator