Bd. 70 Nr. 279 (2010): Missão do Presbítero
Oficialmente, o Ano Sacerdotal foi encerrado. Permanece, porém, seu objetivo: focar a pessoa e a missão do presbítero. Pois, presume-se e deseja-se que o impulso dado à reflexão e às celebrações por ocasião dos 150 anos da morte do são João Maria Vianney, o cura d’Ars, paradigma dos presbíteros e particularmente dos párocos, continue produzindo bons frutos de evangelização.
Prosseguimos, pois, focando a missão específica do presbítero. Publicamos os textos de duas conferências proferidas no 13º Encontro Nacional de Presbíteros. No primeiro, Paulo Suess, se pergunta pela missão do presbítero no atual contexto cultural da sociedade humana, particularmente a ocidental. Não deveria ele – e, por extensão, todo o discípulo de Jesus Cristo – marcar diferença frente aos valores hegemônicos do consumo, da acumulação e da aceleração das necessidades? Esta diferença não deveria estar fundamentada na positividade da experiência do Deus-Amor, que se desdobraria, na pessoa do presbítero, em despojamento de peregrino, em gratuidade eucarística, em aprendizado junto a quem veio para servir? Não trariam, então, o modo de ser do presbítero e sua atividade a marca da encarnação, e não seriam sinais da evangelização? A atual paisagem cultural também é percorrida por Joel Portella Amado, que, assim, contextualiza a missão presbiteral e lhe confere a possibilidade de pertinênciahistórica. Confirma que esta paisagem cultural passa por uma transformação tal que já não pode ser caracterizada como uma época de mudanças, mas como uma mudança de época. Repercutindo no dia a dia do presbítero, este pode e deveria dar-se conta de que, em última análise, o que conta, nesta mudança de paradigmas, é a razão pela qual vive e dá a vida, ou seja, o testemunho pessoal. E, destas chamadas dos sinais dos tempos e da missão presbiteral brota uma interrogação: haveria uma maneira própria e ideal de o presbítero se preparar? Indicação pronta Sílvio José Benelli não a tem. Ressaltando, porém, dois modelos de presbítero no cenário eclesial de hoje, assinala alguns efeitos da educação recebida em alguns ambientes tradicionais de formação. E sobre estes tem-se, sim, controle!
Perguntando-se pelo lugar do laicato na Igreja e desejando entender as perspectivas que as Conferências do Episcopado latino-americano e caribenho lhe traçou, Sávio Carlos Desan Scopinho se pergunta pelo papel que ele pode desempenhar ao longo da história do catolicismo na América Latina e no Caribe, distinguindo os períodos colonial e o da formação dos estados nacionais, até meados do século passado.
Da percepção mais cotidiana do corpo como matéria, Sinivaldo Silva Tavares pergunta-se pela relação entre corpo e corporeidade, entre matéria e materialidade. Desvenda, então, a total gratuidade do existir e, portanto, sugere atitudes de admiração, acolhida e agradecimento/retribuição.
Nilo Agostini traz os resultados de um seminário por ele orientado em que o objeto das considerações versava sobre a relação entre o poder do ser humano, manifestado hoje no campo da biotecnologia, e o que ele chama de “princípio de humanidade”. No exercício de seu poder, o ser humano conserva e/ou aumenta a possibilidade de se interrogar e, portanto, de também questionar sua relação com os demais seres humanos e com toda a criação?
Por fim, discernimento teológico para marcar diferença e relação entre fé e participação política, entre dimensão religiosa e dimensão social. Tarefa nem sempre fácil; no entanto, possível e necessária. Aqui, a oportunidade de se buscar este discernimento com Francisco de Aquino Júnior!
Elói Dionísio Piva ofm
Redator