v. 36 n. 141 (1976): Catolicismo Popular

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Este número de REB é totalmente dedicado ao Catolicismo Popular. Reúnem-se aqui as contribuições da V Semana Teológica de Petrópolis realizada nos dias 17-20 de fevereiro do corrente ano. As 200 pessoas que acorreram mostram um fato iniludível: há um grande interesse ao redor do tema do Catolicismo Popular e há urgência de se aprofundar o conhecimento do fenômeno. Houve uma fase, longa, de desconfiança e rejeição do Catolicismo Popular; nos últimos anos fez-se notar, em certos ambientes, entusiasmo aberto para tudo o que é popular e por isso também para o Catolicismo Popular, chegando-se a tratá-lo como algo de intocável. Os estudos que apresentamos situam-se, sem pretendê-lo previamente, num caminho intermediário. Representam uma tentativa de aproximação séria e crítica do problema a partir de diferentes perspectivas cientificas interessadas no Catolicismo Popular.

Não se pretendia resolver problemas, mas conhecê-los. Os que vieram buscar soluções muito cedo compreenderam o intrincado da questão e se convenceram da necessidade de se ter, primeiro, paciência para se informar, estudar, ganhar uma visão mais completa e estrutural para, a partir daí, se poder pensar em pistas de atuação.

Somente à base de um conhecimento mais adequado ao fenômeno se pode fazer uma reflexão teológica pertinente. Caso contrário, como ocorre frequentemente, a teologia decai para conhecidas universalizações esvaziando os problemas propostos à sua reflexão. Em razão disso tudo houve pouca reflexão teológico-pastoral no encontro em Petrópolis. O material publicado representa indubitavelmente um desafio à inteligência teológica; fica aqui consignado um convite para que estes textos científicos sejam retomados à luz da leitura teológica.

O Catolicismo Popular envia sua mensagem em código próprio que não é aquele do Catolicismo Oficial. Este pensa uma coisa e a diz univocamente. Aquele diz uma coisa e pensa outra, pois sua linguagem é metafórica e sacramental. «O tipo de relação é diferente: na linguagem popular supõe-se o interlocutor inteligente; na linguagem técnica (do Catolicismo Oficial) supõe-se a linguagem inteligente» (M. de Certeau). O sentido dos trabalhos publicados é convidar-nos a sermos interlocutores inteligentes. Para isso devemos ter, como o povo, grande espírito de finesse: ao bom entendedor meia palavra basta.

Leonardo Boff, O.F.M.

Redator da REB e Coordenador do Encontro

Publicado: 2022-06-01