v. 37 n. 145 (1977): Direitos humanos e Evangelização

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Nos dias 9, 10 e 11 de fevereiro do corrente, realizou-se, em Petrópolis, a sexta semana teológica, versando sobre o tema Direitos Humanos e Evangelização, cujas contribuições se encontram neste número da REB. Presentes estavam cerca de 65 teólogos, vindos de todas as partes deste imenso país.

Nestes últimos anos, a Igreja no Brasil assumiu uma reconhecida liderança na defesa dos direitos inalienáveis da pessoa humana, seriamente comprometidos pelas práticas impostas pelo regime vigente no país desde 1964. Não que somente agora a Igreja viesse a denunciar violações dos direitos do cidadão. Nossa história pátria, que conheceu a escravatura, testemunha o quanto tem sido difícil manter d coerência entre mensagem evangélica e práticas sociais discriminadoras. Mas não se pode negar que nos últimos anos a consciência cristã revelou aguda sensibilidade na defesa dos direitos humanos como uma tarefa da própria evangelização.

Este fato propicia à teologia fazer uma reflexão mais fundamental sobre a estreita vinculação entre direitos humanos e missão evangelizadora. Para que a diligência se revestisse de maior seriedade procedeu-se a aprofundamentos do tema em diferentes níveis: histórico, filosófico, sociológico, político e teológico. Os resultados o leitor poderá colhê-los nestas distintas abordagens. Perceberá até que ponto se deve aproximar evangelização e direitos humanos e até que ponto se deverá manter um recuo crítico para não cair em ilusões idealistas que acabam favorecendo exatamente aqueles que violam os direitos humanos.

De todas as maneiras a fé cristã implica uma imagem do homem, visitado e habitado por Deus, que o torna sacrossanto e inviolável em sua dignidade, estabelecendo limites intransponíveis aos interesses do Estado ou à necessidade de uma legitima segurança nacional. O homem se encontra imediatamente diante de Deus e nenhuma instancia civil ou eclesiástica pode arredá-lo de sua posição, antes são julgadas por ela em suas pretensões. Ter compreendido isto e organizado uma práxis coerente é certamente um mérito de nossa Igreja, cuja boa fama corre pelas Igrejas do mundo inteiro.

Leonardo Boff, O.F.M.

Publicado: 2022-05-10