v. 38 n. 149 (1978): Subsídios para Puebla/78

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Todo este número da REB é dedicado à análise ou ao oferecimento de subsídios ao Documento de Consulta para a Terceira Conferência Geral do Episcopado Latino-americano a se realizar em Puebla (México) nos dias 12-28 de outubro do corrente ano. O tema é a evangelização no presente e no futuro da América Latina.

O documento é decepcionante. Não atende às grandes expectativas da Igreja continental que espera ser reafirmada na caminhada dos últimos anos. Sente-se em todas as partes a vontade de frear, de repristinar posições do passado e de polemizar.

Falta ao texto um senso de realidade em dois sentidos: não detecta com pertinência os problemas sociais do Continente, não se esforça por ir às causas que os explicam e a proposta que oferece para o seu equacionamento recende a uma velha fórmula, totalmente inviável no contexto do mundo atual: a gestação de uma cultura cristã, de uma civilização do amor.

O documento abandona a perspectiva consagrada em Medellín. Aí a Igreja fez as grandes opções, pelos pobres, pela libertação integral, pela Igreja particular, especialmente pelas comunidades eclesiais de base. Citam-se muitos textos dos documentos de Medellín. Entretanto a ótica é abandonada. A proposta do texto não é mais a opção pelos pobres que trouxe credibilidade à Igreja e a enriqueceu com inegáveis valores evangélicos, mas é em favor da cultura cristã, alternativa que pretensamente se oferece à férrea divisão do mundo entre «coletivismo totalitário» e «capitalismo materialista», na expressão do documento de consulta. Cremos ser esta a fórmula que os autores do texto encontraram para obviar uma opção mais decidida da Igreja pelos esbulhados milhões de nossos países. A Igreja não opta, dizemos nós, nem pelo capitalismo nem socialismo. Ela opta pelo povo que, geralmente, está à margem de um e outro sistema.

O texto deslatinoamericaniza a reflexão teológica e a maneira como se tomam decisões pastorais: parte-se da realidade analisada com os instrumentos científicos disponíveis; interpreta-se esta realidade assim descodificada à luz da fé e se decidem pistas de ação pastoral. O texto assume apenas ritualisticamente esta metodologia. Seu conteúdo não é determinado por este método. É doutrinário, dedutivo e já nasce pronto. Não é digno da teologia dos teólogos latino-americanos e dos pronunciamentos dos nossos principais episcopados. Deverá ser refeito por amor ao nosso Povo de Deus que espera e merece uma esperança melhor.

Leonardo Boff, O.F.M.

Redator da REB

Publicado: 2022-04-12