v. 43 n. 169 (1983): Os 50 anos da JOC
A peregrinação do Papa pela América Central se propunha confirmar os irmãos na fé no meio de tremendos conflitos de sangue de morte. Sua palavra foi pastoral e também profética. A Nicarágua é um pais distinto dos demais: o povo conseguiu se libertar de uma ditadura iníqua que custou 50.000 mil mortes. No dia anterior à visita do Papa, na mesma praça da missa pontifícia, se haviam celebrado as cerimônias de sepultamento de 17 jovens trucidados pelos ex-guardas somozistas. O povo esperava palavras de paz e de conforto às mães doloridas. O Papa abordou um tema também conflitivo, aquele das relações difíceis entre um episcopado que se opõe à revolução e de vastos setores da Igreja, especialmente, das comunidades eclesiais de base, que se fazem presentes na reconstrução do país. Houve um lamentável descompasso entre a mensagem expressa pelo Papa e a expectativa dos milhares que enchiam a praça. A frustração da expectativa se traduziu cm gritos até lancinantes: «Santo Padre querido, reze por nossos mortos e por nossos mártires; queremos a paz». Pedro Ribeiro de Oliveira, sociólogo e militante junto ao caminhar das CEBs no Brasil, esteve lá e faz o seu relato. Há a objetividade do analista, mas também a paixão do cristão que sofre pelo descompasso verificado e pela perda de uma irrepetivel oportunidade de se refletir sobre as responsabilidades dos cristãos, particularmente dos leigos, na construção de uma sociedade nova para todos. Agradecemos ao amigo e já conhecido colaborador da REB por sua contribuição lúcida e corajosa.
Apresentamos dois significativos estudos comemorando dois eventos importantes: os 50 anos da Ação Católica Brasileira e os 100 anos do nascimento de J. Cardijn, fundador da JOC. Como subsídios valiosos para ajuizarmos estes acontecimentos eclesiais, Dom Marcelo Carvalheira, com seu fino senso teológico, nos oferece um estudo sobre a ACB e Scott Mainwaring nos brinda com um alentado estudo sobre a JOC no Brasil.
Dos Comunicados ressaltamos o estudo minucioso de Gilberto Vi lar de Carvalho sobre o Pe. Ibiapina a propósito de seu centenário. Ele é um dos pais da Igreja que buscou encarnação no meio dos pobres.
Que Deus nos dê a parrhesia apostólica para viver da verdade contra toda mistificação. Só assim ele nos liberta e nos entrega a boa-nova de Jesus.
Leonardo Boff, O.F.M.
Redator da REB