v. 43 n. 172 (1983): Lutero entre a Reforma e a Libertação

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No dia 5 de dezembro Alceu Amoroso Lima completaria 90 anos. Deus chamou-o pouco antes. Antes que uma pessoa, é toda uma geração de cristãos que se sentem herdeiros de seu legado espiritual. Leigos como Luiz Alberto Gómez de Souza de quem publicamos agora algumas páginas altamente sugestivas sobre Tristão de Athayde, ou como Pedro Ribeiro de Oliveira ou Luiz Eduardo Wanderley, prolongam a linha que Alceu tão originalmente cunhou: um pensamento enraizado em nosso processo histórico e uma filtração da experiência humana pela ótica da fé.

O redator desta revista publica uma conferência proferida numa semana internacional e ecuménica sobre Lutero em Madri em meados de novembro, tentando interrogar as intuições do grande Reformador a partir dos interesses de libertação à luz da fé que os pobres de nosso Continente hoje apresentam. Junto com esta colaboração agradecemos o trabalho original de G. Alberigo, leigo, famoso professor de história da Igreja em Bolonha, que nos traça um quadro para além das controvérsias confessionais sobre o significado de Lutero.

O artigo de Dom Valfredo Tepe, bispo de Ilhéus, vem enriquecer a compreensão da opção preferencial pelos pobres, tão solenemente assumida pelos bispos em Puebla. Abre perspectivas culturais e eclesiais acerca da chance historicamente possível de uma vida sóbria e austera, geradora de energias humanizadoras.

Dirceu Lindoso, antropólogo de envergadura, apresenta, numa leitura epistemologicamente bem fundada, o significado da Guerra dos Cabanos (1832-1850); aí aparece a luta dos pobres (especialmente índios e negros) num sentido libertador apesar da ideologia alienante com que foi expressa por eles mesmos.

É um trabalho de fina análise, onde a antropologia, a epistemologia e a história ajudam a deslindar o significado da luta libertária dos condenados da terra.

Das Comunicações chamamos a atenção para o texto, muito sugestivo, de Dom José Maria Pires sobre a participação do povo na construção da democracia.

A REB deseja a seus leitores, para estes tempos maus e de grande tribulação para o povo sofrido, a esperança do Evangelho de Jesus Cristo Libertador. A âncora desta esperança está no céu, onde Jesus penetrou (Hb 6,19). Por isso é firme e sólida.

Que Deus tenha misericórdia de todos nós.

Leonardo Boff, O.F.M.

Redator da REB

Publicado: 2022-02-08