v. 50 n. 198 (1990): Para onde vai a Igreja na América Latina?

					Visualizar v. 50 n. 198 (1990): Para onde vai a Igreja na América Latina?

O próximo transcurso do V centenário da evangelização da América Latina está despertando diversas iniciativas. Uma das mais significativas é a que coincide com a realização da IV Assembléia Geral do Episcopado Latino-Americano, prevista para outubro de 1992 em Santo Domingo. Há pouco foi divulgada a segunda elaboração do documento preparatório para esta Assembléia. A tese de fundo deste documento proporia uma guinada de rota da Igreja latino-americana: romper-se-ia com a tradição estabelecida pelas Assembléias de Medellín e Puebla, que privilegia os rostos pobres latino-americanos, e se adotaria um projeto voltado à modernidade. No avaliar, em seu conjunto, os pressupostos desta proposta do documento preparatório e no chamar a atenção para a pertinência da opção a se fazer está o mérito do ensaio de Clodovis Boff.

Hugo Assmann aborda uma temática de abrangente e disfarçado realismo: a do mercado total. Este, qual um deus, promete felicidade em troca de sacrifícios humanos. Portanto, assinala, apresenta-se um desafio para os teólogos e cristãos em geral: como articular, teórica e praticamente, os temas da justiça, da paz e da comunhão universal entre os homens.

Ari Pedro Oro busca o significado da utilização dos MCS pela “Igreja Universal do Reino de Deus” e pela “Igreja Evangélica Pentecostal Cristã” no Sul do país. Estaria sendo veiculada uma imagem de legitimidade e eficácia das referidas igrejas, resolvendo problemas existenciais, através de apelo ao sobrenatural, e comprometendo economicamente os adeptos.

José Comblin, a partir de sua experiência pessoal como assessor de CEBs no Nordeste, analisa o atual momento evolutivo das mesmas e acha que “estão diante do desafio de passar da idade profética, espontânea, improvisada, para a idade institucionalizada”. Conjuga a relação entre carisma e instituição na Igreja em função das CEBs.

Lúcia Ribeiro nos leva à Polônia, relatando-nos o que pôde perceber a respeito da condição social e eclesial da mulher, durante uma sua viagem àquele país. Ela nos transmite um quadro complexo e sugestivo para o debate em torno do papel da mulher na Igreja e na sociedade.

Hubert Lepargneur estabelece um insinuante paralelismo entre bioética e biblioteca: embora podendo delas nos aproximarmos reducionisticamente, guardam, sobretudo, nas devidas proporções, o rico potencial das possibilidades de manifestação da vida. Diante desta riqueza, o Autor propõe liberdade de pesquisa e convivência pluralística, descartando, portanto, dogmatismos apriorísticos e autoritários.

Elói Dionísio Piva nos mostra que os líderes da Igreja Católica, em 1890, movendo-se na liberdade que estava sendo institucionalizada pelos homens da República, veiculam um projeto de reforma e modernização da Igreja, através da formação de um episcopado — composto por bispos instruídos, zelosos e bem relacionados com Roma — consciente de sua tarefa de qualificar o clero e de coordenar a atividade pastoral da Igreja. O projeto desloca o acento: de uma Igreja do Brasil para uma Igreja no Brasil.

Frei Elói Dionísio Piva

Redator

Publicado: 2021-09-29