v. 50 n. 199 (1990): V Centenário: A Busca do Novo Rosto

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Por certo, toda pessoa consciente e lúcida se sente interpelada a articular fé e contexto social. Em geral, poderíamos dizer que esta interpelação se faz mais pertinente entre teólogos, pastores e místicos. Portanto, também esta revista, através de seus colaboradores, não faz outra coisa senão pensar e repensar, elaborar e reelaborar a relação entre história e transcendência, socializando o resultado deste esforço, na esperança de que os bons frutos se multipliquem.

Assim, Leonard M. Martin, preocupado com a situação geral da família brasileira, busca luzes no procedimento pastoral de São Paulo. Conclui: como o Apóstolo das Gentes, atuando num contexto de missão e numa situação social diversa da judaica, consegue aliar fidelidade a Cristo e flexibilidade histórico-cultural, assim o teólogo e o pastor, inseridos na presente realidade social brasileira, podem se inspirar na metodologia do Apóstolo para encontrar soluções pastorais que respondam aos desafios da moral sexual.

Também Carlos Alberto dos Santos Dutra aborda a repercussão das mudanças sócio-culturais sobre a família. Em meio às contingências sofridas pelo matrimônio, assinala a presença “natural” de valores evangélicos que os cristãos, em sua missão no mundo, são chamados a perceber e a apreciar.

Com José Oscar Beozzo avaliamos a visão histórica expressa na segunda elaboração do documento do CELAM, divulgado com o objetivo de colher sugestões com vistas à IV Conferência Geral do Episcopado Latino- Americano. No intuito, pois, de ajustar a concepção histórica ali formulada ao conjunto dos fatos históricos e de avaliar esta ótica de leitura, o Autor indica alguns avanços em relação a Medellín e a Puebla, mas registra também limites e lacunas que, por sua notoriedade, deveriam merecer uma revisão.

Gilberto Gorgulho se apresenta através do Livro dos Provérbios. Ele consegue integrar sentenças aparentemente isoladas num contexto histórico coerente, graças à conjugação lógica entre o desejo mimético — o visar-se um mesmo determinado objeto — e o subjacente desejo de vida. O primeiro — projeto do ímpio — estaria na raiz da situação de violência institucionalizada; o segundo — projeto do Justo —, por sua postura de liberdade e desapego diante dos bens deste mundo, desarma o gatilho da violência e da morte e aponta para o caminho da Justiça e da Verdade, da Sabedoria e da Vida.

A abordagem de Leonardo Meulenberg a respeito da atuação dos primeiros cristãos diante dos desafios do Império Romano anterior a Constantino resulta na demonstração do espírito de fraternidade que entre eles reinava. O exemplo deles teria fascinado tanto, que a saudade perduraria até hoje.

Eduardo Hoornaert nos estimula com a proposta da “morenidade” étnico-cultural brasileira. A questão de fundo é a da adequação da expressão religiosa ao “jeito” brasileiro. Trata-se, pois, de conhecer a fundo este povo para adequadamente relacionar fé e cultura e não simplesmente transpor e impor roupagens culturais.

Enfim, Riolando Azzi evoca o movimento reformador dos bispos brasileiros na segunda metade do século passado. Na atuação de Dom Luís Antônio dos Santos confirma algumas das principais caracteristicas deste movimento, que, se representou benefícios, também contribuiu para desacertar o passo com a tradição histórico-cultural brasileira.

Que estes subsídios possam ser de ajuda para nossa missão no mundo.

Frei Elói Dionisio Piva

Redator

Publicado: 2021-09-28