v. 51 n. 201 (1991): Pastoral de Classe Média na perspectiva da Libertação

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Em termos gerais, a Igreja do Brasil apresenta-se nos últimos tempos com uma feição que, além da consciência ministerial, traz a marca de um novo vigor participativo, de uma renovada incidência sócio-cultural da fé, da opção preferencial pelos pobres. Contudo, a respeito desta última característica, talvez caiba a pergunta: será que, na prática, o “preferencial” carregou ou carrega alguma conotação “exclusiva”? Será que nossa Igreja conseguiu e consegue articular-se catolicamente? Consegue acolher e coordenar a diversidade de seus filhos de modo integrado, solidário e libertador? Neste sentido, a colaboração de Clodovis Boff sobre pastoral de classe média é provocadora: apresenta lacunas, ensaios e, principalmente, a sugestão e o desafio de acolher, incrementar e integrar uma pastoral de classe média com o imperativo evangélico de evangelizar os pobres.

À distância de quase dois anos do VII Encontro Intereclesial (julho/89), Roberto Van der Ploeg faz um balanço das realizações e das interrogações que constata. De suas ponderações emergem novas perspectivas — de esperança — para o amanhã das CEBs.

Antônio da Silva Pereira termina sua valiosa contribuição a respeito da participação dos leigos nas decisões da Igreja. Pondera ele que esta participação, com voto deliberativo, a partir da consciência e da práxis das CEBs, não deveria ser menosprezada. Ela nasce de um jeito de ser — aberto ao serviço, ao consenso, à comunhão — bíblica e tradicionalmente enraizado.

Por ocasião do centenário da “Rerum Novarum”, mais duas colaborações ligadas à ordem econômico-social. Na primeira, Marc Luyckx constata que as programações econômicas são feitas hoje em termos de aldeia global e confirma a gritante desigualdade econômico-social no planeta dos homens. Estas premissas são um convite a teólogos e pastoralistas para incrementar e buscar mecanismos que promovam um planejamento global da atividade econômica e gerem mais justiça social. Na segunda, Herman Vos relaciona o pensar econômico com a ética. A consciência desta relação emerge como um “desideratum”, como uma necessidade típica do ser humano e como uma condição para que este se aproxime de sua própria realização.

No campo da teologia moral, também contamos com duas contribuições. Eduardo Rodrigues da Cruz, servindo-se da narração da criação e queda de Adão (Gn 2,4b-3,24), apresenta, do ponto de vista antropológico, a condição humana como sendo portadora de ambivalência, sujeita ou ao sucesso ou à frustração. Ernesto Lima Gonçalves fala, com clareza e sensibilidade, da paternidade responsável. Ele leva em conta as transformações sociais que afetam a família hodierna, bem como a evolução da tomada de consciência da dignidade e da realização da pessoa humana no amor, expressa na orientação da Igreja.

Na seção “Palavra do Leitor”, Jorge Atílio da Silva Iulianelli mantém aceso o debate em torno do presente e do futuro das CEBs.

Frei Elói Dionisio Piva

Redator

Publicado: 2021-09-23