v. 53 n. 211 (1993): Direito de associação na Igreja
Caros leitores da REB, ao abrir este fascículo Vocês encontram o convite do Pe. José Comblin para, com ele, refletir sobre a relação Igreja/cultura dos pobres. Apesar de os leigos terem sido valorizados em Santo Domingo, será que uma de suas formas de associação - as CEBs - encontra cidadania na Igreja? O Pe. José Comblin retoma sua intuição de 1990 e invoca o direito de livre associação na Igreja para salvaguardar a intuição original das CEBs, integrando-as juridicamente na mesma Igreja. Com esta proposta ele resgata a tradição leiga em nossa história e, principalmente, vai ao encontro da cultura do homem urbano de hoje. Este homem urbano (e o espírito urbano ultrapassa os limites estritos da cidade) prima pela liberdade, pela autonomia, pelo espírito de iniciativa. Aspira à comunhão eclesial, participando como sujeito, livre, criativo e associado. Comblin repropõe, pois, a salvaguarda da intuição básica das CEBs: valorização da cultura popular na Igreja e presença dos leigos como sujeitos da vida eclesial.
Da eclesiologia Vocês são convidados a retomar às preocupações e ocupações pelo pão nosso de cada dia. O Pe. Jacques Hilaire Vervier tem uma sugestiva consideração, decorrente da relação: utopia cristã e racionalidade econômica. Ele mostra a importância de se manter o senhorio da utopia cristã face à racionalidade econômica. Enquanto sedutora de novos valores e sentidos, de um mundo melhor, enquanto projeção das aspirações mais nobres do ser humano, a utopia é um antídoto contra a inércia e esclerose de todas as formas de convivência social. É profetismo cristão. Por sua vez, neste mesmo campo da economia, o prof. Herman Vos nos apresenta um estudo sobre o Pe. Antônio Vieira, em que este, embora sensível às ambiguidades do “jogo” econômico da época, advoga que o rei tenha os meios necessários para manter as conquistas e dilatar a fé cristã.
Com Faustino Luiz Couto Teixeira e José Maria de Paiva retomamos às CEBs. O primeiro, um estudioso do assunto, nesta contribuição elaborada antes do 8o Intereclesial, faz um balanço da atual conjuntura sócio-eclesial e aponta a inculturação, a evangelização e a espiritualidade como vetores das CEBs na atualidade. O segundo, com um estudo também elaborado há mais tempo, mostra o específico da função educativa das CEBs: a partir da fé, um caminho de participação, de integração fé e vida.
Finalmente, por ocasião da beatificação de Duns Escoto e em sua homenagem, Dom Boaventura Kloppenburg nos retransmite a natureza prática da teologia no pensamento escotista: o conhecimento em função do amor; o amor essencialmente práxis.
Mas não deixem de verificar também o estudo de Francisco Taborda e o depoimento do Dom Erwin Krautler: eles elucidam o itinerário teológico-eclesial do documento de Santo Domingo.
Fr. Elói Dionísio Piva
Redator