v. 54 n. 214 (1994): Despertar ético

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Há tempo que o termômetro da inquietação social aponta para números elevados. Constatamos que as dimensões deste fenômeno se dão em nível mundial e, de modo particular, na sociedade brasileira. A Igreja, enquanto inserida na grande história da humanidade, também é agente ativo e passivo do fenômeno. Enquanto processo histórico de interação entre carência e plenitude, esta inquietação faz parte do estatuto conjuntural da vida humana. Mas, o tom de exigência e de urgência de mudanças é que faz a diferença e acelera o processo. A palavra “crise” e sua qualificação como crise da “modernidade” estão na ordem do dia. Ora, dizer “crise da modernidade” é afirmar que os valores basilares da cultura moderna, particularmente o da subjetividade, estão sendo questionados. Estão sendo questionados a partir da insatisfação de muitos de seus frutos e principalmente a partir da utopia de uma plenitude maior. Trata-se de um redespertar ético que repropõe com vigor o senso da cidadania e da solidariedade, da liberdade e da corresponsabilidade, da justiça social, da verdade e da vida como valores fundantes do ser humano. O desconforto de ser mendigo destes valores, às vezes, turva o horizonte. A sede de justiça e de amor é, porém, sinal de esperança. É testemunho da atuação do fermento do Evangelho do Reino, na Igreja e no mundo. Harold Drefahl, Jung Mo Sung, Olinto A. Pegoraro e José Roque Junges, respeitadas as diferenças de temas e enfoques, nos ajudam a entrarmos nesta sintonia. Em “momentos” de profundas mudanças na conjuntura da vida humana sobre a terra é preciso redescobrir a razão de ser da Vida Religiosa e a função de seu lugar social. O próximo Sínodo dos Bispos se ocupará justamente deste assunto. José Maria Vigil toca esta corda e dá o tom do sinal escatológico da VR.

A evangelização, particularmente ao interno da própria Igreja inserida na cultura secular de hoje, é uma provocação à criatividade do amor cristão. Diante de situações novas, como fazer, onde buscar luzes? A Tradição da Igreja é um manancial de inspiração para uma criatividade coerente. Bernhard Häring, conhecido mestre em Teologia Moral, Leonardo Meulenberg, Marcial Maçaneiro e João Carlos Almeida nos orientam nesta senda.

Retomando à realidade sócio-religiosa brasileira e, especificamente, à religião popular, Pedro A. Ribeiro de Oliveira avalia seu potencial crítico e sócio-transformador, bem como alguns de seus limites; Eduardo Hoornaert traz ao nosso conhecimento a contribuição de Thales de Azevedo para a sociologia do catolicismo no Brasil. Ambos nos ajudam a tomar contato – sempre salutar – com nossas raízes religioso-culturais.

Frei Elói Dionísio Piva

Redator

Publicado: 2021-05-25