v. 54 n. 216 (1994): Utopia cativa
Um rico e variado repertório se encontra neste fascículo. Nutrimos, pois, a esperança de que será de muita utilidade.
Em decorrência da evolução econômica, política e social dos últimos anos, o mercado mundial, juntamente com seu suporte ideológico neoliberal, apresenta-se como aurora da nova era: mundialização do mercado, “fim da história”. É uma utopia que pretende se aproximar com seu brilho. Quem eventualmente a ela se opuser está fadado a perder o rumo da integração social, opta pela exclusão social. Parece até não haver mais outra perspectiva histórica e humana possível. É um bezerro de ouro que seduz e escolhe os seus convidados.
É, contudo, em nome da transcendência humana a toda realização histórica, em nome do Deus totalmente Outro, em nome do Reino de Deus e, particularmente, em nome da revolucionária esperança dos excluídos do mercado mundial que a consciência humana e cristã se levanta. Um fenômeno paradoxal! Por um lado, os que mostram os pés de barro do ídolo parecem ser os eternos insatisfeitos, os sonhadores de sempre, que tudo criticam e não são capazes de apresentar propostas viáveis para demandas concretas da vida humana. Por outro, não podem não se alegrar com os sinais de esperança que ampliam as perspectivas da mesma vida humana. É que o Reino já está, sim, no meio de nós, mas ainda não se manifestou plenamente. Por isso, podem dizer como São Paulo: “Ai de mim se não evangelizar”, o que significa anunciar a Cristo crucificado. Seguindo o Mestre, este é o caminho, não outro. A denúncia da idolatria e a defesa dos excluídos – a mais vibrante reserva de esperança e teimoso sinal do sonho de plenitude humana – fazem parte do conteúdo evangelizador. O anúncio da Vida, da Liberdade, da transcendência humana implica na denúncia dos bezerros de ouro que tentam hipnotizar a utopia. Com efeito, todo avanço é sinal da realização plena e de todos, mas é tão-somente sinal; toda beleza vislumbrada é uma ascensão, mas é tão-somente um sinal da beleza eterna; toda inclusão na mesa humana é um passo na realização da utopia da família humana, mas é tão-somente um passo. Franz J. Hinkelammert anuncia a utopia humana e denuncia pretensões idolátricas de nossos dias.
Bárbara Pataro Bucker configura o modelo esponsal de Igreja no documento de Santo Domingo.
Nilo Agostini, ao término deste ano dedicado à família, levanta as condições da mesma no Brasil de hoje.
Ari Pedro Oro tece o relacionamento entre aspectos religiosos da modernidade e da pós-modernidade com a prática pastoral da Igreja.
Evandro A. D’Assumpção evoca uma temática comum no dia-a-dia das pessoas e da cultura novelística: a partir da fé cristã e da parapsicologia, o que podemos afirmar sobre comunicação com os mortos?
Cláudio de Oliveira Ribeiro atualiza a contribuição de Paul Tillich para o diálogo entre fé e a dominante cultura moderna.
Elói Dionísio Piva, ofm
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