v. 56 n. 221 (1996): Encontro Cristianismo-Candomblé
Graças ao avanço científico e técnico, percebemos com certa facilidade o pluralismo da vida humana. Também a experiência do divino e sua expressão cultural são percebidas como plurais. Consequentemente, viver é arte de conviver na pluralidade. Como ideal de convivência figuram o reconhecimento teórico e prático do interlocutor como autonomia positiva. Evidencia-se o sonho da superação de atitudes exclusivistas, inclusivistas ou dominadoras. Em contrapartida e como pré-requisito para o diálogo, requer-se, porém, identidade religiosa. Pressupõe-se busca das razões da Fé e simpática acolhida da alteridade humano-religiosa. No intuito de contribuir para o diálogo inter-religioso no Brasil, o jovem teólogo Volney Berkenbrock se pergunta pelas bases teológicas que amparam, do ponto de vista cristão, o diálogo com o Candomblé. Pressuposta a formação sócio-religiosa do país, não resta dúvida que a temática é de muito interesse.
Também a paz e a justiça social não deixam de ser uma profunda aspiração da sociedade. Como, porém, concretizá-las? Além do próprio sonho, que pressupostos são requeridos para uma ação política eficaz? Luiz Demétrio Valentini Augusto de Franco nos oferecem bons subsídios para esta interrogação.
E a sobrevivência? Uma das grandes (pre)ocupações da sociedade humana! Em seu favor instauram-se sistemas de produção e de comercialização, incrementando a troca de bens. A vida, essencialmente partilha de um dom divino, deve ser assegurada. Por isso, nenhum sistema econômico poderá ser absolutizado, se antes não responder afirmativamente pela demanda da partilha, da inclusão de todos, da qualidade de vida para todos. Franz J. Hinkelammert e Luiz Demétrio Valentini analisam o atual sistema econômico. Em que situação nos encontramos?
Do mesmo modo, nenhum sistema teológico ou pastoral pode pretender exaurir, na teoria e na prática, a experiência religiosa. Por isso, a importância da contribuição do jovem historiador e teólogo Marco Dal Corso. Ele indica realizações e limites da prática teológico-pastoral daquela que, emblematicamente, identifica como “Igreja da denúncia”. Uma serena e corajosa autocrítica possibilita caminho cultural, abertura de novos paradigmas e reverente atitude diante do mistério da vida.
De modo semelhante, a própria administração da Igreja, em qualquer nível, embora conte com a assistência do Espírito Santo, deverá sempre exercitar-se no ouvir o mesmo Espírito, porque este sopra quando, onde e como quer. Neste sentido, se colocam a análise da atual conjuntura eclesial de Clodovis Boff, a avaliação da orientação da CNBB a respeito da RCC de Ari Luís do Vale Ribeiro e as sugestões de Alberto Moreira em favor da produção teológica no Brasil.
E que dizer do sonho de debelar as doenças hereditárias, ou, ao menos, muitas delas? Há dez anos trabalha-se num arrojado projeto da decifragem do genoma humano com esta finalidade. Confira, com Hubert Lepargneur, quais são as atuais perspectivas.
Frei Elói Dionísio Piva
Redator