v. 56 n. 224 (1996): Globalização
De ano em ano, nos propomos um tempo forte para contemplação e celebração da encarnação do Senhor. “Deus amou tanto o mundo...” (Jo 3,16). Expõe-se à acolhida e à rejeição. História de vida, história de morte!
Deste “mundo” por Deus amado, ressaltamos o pensar e o agir de toda pessoa humana. Evidenciamos seu aspecto de linguagem, de verbalização de sentido, de cultura. Cada ser humano é que é fonte criativa de cultura, interagindo com todos os seres. Cada pessoa humana é “mundo” e é criadora deste “mundo”. “Mundo” dinâmico, criativo! Lugar de experiência da vida e da morte, da santidade e da maldição.
A Igreja tem consciência de ser enviada a testemunhar e a anunciar a Boa-Nova de Jesus Cristo, levando em conta este “mundo” ou, em outros termos, os “sinais dos tempos”.
De nossos tempos, quais são os sinais? Que “mundo” criamos e em que mundo participamos? Qual a sua linguagem? Quais os desafios que apresenta àqueles que testemunham o Amor do Pai?
A globalização, além de ser uma ficção, é um fenômeno histórico. Além de confirmá-lo, Herman Vos elucida alguns pressupostos propulsores - físicos e ideológicos - deste mundo novo. Obviamente, a constante e rápida mudança deste “mundo” traz consequências inevitáveis, provoca interrogações e apresenta desafios.
Um destes desafios, no campo sócio-econômico, é estabelecido pelas possibilidades de trabalho. Se novas são criadas, muitas são extintas, criando e alimentando o fantasma do desemprego, da exclusão. Neste contexto, a interpelação que se nos apresenta é a da criatividade na criação de novos postos de trabalho e a do efetivo espírito de solidariedade, tanto na produção como na partilha dos bens. Jacques Vervier é que mantém a generosa chama desta interpelação.
A partir deste mundo novo, quais as perspectivas que poderiam nortear a organização da ação evangelizadora da Igreja? O “mundo” da globalização, da qualidade total, da mobilidade, da racionalização, da exclusão, da subjetividade, da autonomia, da privatização são pessoas às quais também nós, de uma forma ou de outra, estamos associados. Ora, é este mundo que é nosso interlocutor. Que formas de anúncio e ação nos sugere? O que nos convém? A sugestão de resposta quem a adianta generosamente é Paulo Suess.
A CNBB propôs para a Igreja no Brasil, até 1998, um conjunto de Diretrizes para a Ação Evangelizadora. Jesus Cristo, razão desta Ação e de acordo com a tradição de nosso povo católico, é representado prioritariamente como o Senhor Bom Jesus, como o Bom Pastor. Exemplo e inspiração de relacionamento pessoal com cada pessoa humana. Oportuna evocação! O ensaio é um testemunho de amor pela Igreja em nosso país que Frei Bernardo Cansi nos deixa. Com gratidão, esta revista presta saudosa homenagem à sua memória.
Enfim, José Comblin, continuando a conversa sobre cultura e inculturação da Boa-Nova de Jesus Cristo, recolhe a experiência do passado e, situando-se nas perspectivas atuais, sugere o seguinte: A novidade da contribuição da Igreja se coloca na origem de toda articulação histórica; mas esta novidade deveria ser compartilhada com cada ser humano em atitude de diálogo, diálogo que, por sua vez, se situa no âmbito da liberdade, da criatividade e da provisoriedade de toda forma de cultura humana.
Elói Dionísio Piva
Redator