v. 57 n. 227 (1997): Evangelização no Brasil
Os que se associam e se congregam em nome de Jesus Cristo o fazem em razão do Evangelho por Ele anunciado, ou seja, por Ele mesmo. Consequentemente, colocam-se como ideal: celebrar, viver e difundir esta Boa Notícia que, por sua vez, em ordem de precedência, cede lugar à Criação. Por isso, é obvio que o evangelizador leve em conta a criatura, particularmente a humana, pois que esta traz a marca do Artista e Ele mesmo a ela se associa intimamente. E se associa a esta criatura humana em sua condição histórica, objetivamente situada. Isto significa dizer: enquanto ela se entende como parte objetiva e criativa de um determinado sistema cultural, parte integradora e criadora de um dinâmico tecido de relações pessoais. Por isso, levá-la em conta na evangelização significa, entre outras e em termos ideais, reconhecimento e respeito à alteridade e liberdade humanas. Significa disposição ao diálogo e à gratuidade, bem como percepção de transcendência. Significa sincera busca de adequação com o Autor e Avalista de toda a Evangelização. Em decorrência, a Evangelização é a dinâmica de um processo sempre novo e antigo que possibilita comunhão e aprendizado permanentes. Com efeito, José de Anchieta, um dos primeiros e mais devotados evangelizadores do Brasil, passados 400 anos de sua morte, tanto desperta admiração como oferece a possibilidade de lhe apresentarmos, em tempos de nova evangelização, algumas de nossas questões. O estudo de Paulo Suess nos ajuda a fazer esta aproximação.
O anúncio da salvação tem como destino irromper de maneira jubilosa e/ou crítica no universo humano. Por isso ele suscita a percepção de desafios de toda ordem. Por exemplo: o arranjo neoliberal, hoje triunfante, parece possuir telhado de vidro. Ao mesmo tempo em que festeja significativos resultados apresenta uma salgada conta. Ora, neste contexto, que exigências acarreta o seguimento de Jesus Cristo? E possível identificar se os cristãos, alguns ao menos, fazem as vezes do sal e da luz, ou seja, se eles são consciência crítica? Se não o são, com certeza, são chamados a sê-lo. José Maria Vigil representa um incentivo para este discernimento e um convite para o seguimento de Jesus Cristo nos dias de hoje e na América Latina.
É possível manter educandários para pessoas carentes? Em caso afirmativo, com que ônus e com que resultados? Independentemente das respostas, com certeza, trata-se de um empreendimento espinhoso. Se assim o é hoje, não foi diferente no passado. O estudo de Herman Vos, relativo à iniciativa dos jesuítas em nossa primeira evangelização, o demonstra. O dilema que eles viveram entre economia e moral só mudou hoje de feição. Interrogações permanecem, o que, aliás, não deixa de ser um bom sinal!...
O intercâmbio de bens, objetivando elevar o padrão de vida, o grau de comunhão e de enriquecimento do espírito humano, está longe de ser ideal. Exploração, dependência e injustiça estão escancaradas. A qualidade das relações humanas são afligidas, cm nível local e mundial. Se o perdão de dívidas externas (na relação entre países), por ocasião da virada do milênio, é desejável, um salto qualitativo em termos de corresponsabilidade é sonhado. Enquanto isso, como a dívida dos países endividados repercute entre suas respectivas populações? Que nível de consciência manifestam elas em relação à dependência, ao endividamento e às sequelas do empobrecimento? A pesquisa de João Henrique Van de Ven, levada a efeito entre membros de Comunidades de Base da Baixada Fluminense, nos oferece uma amostra.
Finalmente, como imaginamos a Igreja ideal? Segundo o modelo do Corpo Místico, do Povo de Deus, da Esposa? De qualquer forma, modelo de Igreja e pertinência histórica da evangelização convergem. Onde estamos e por quê? Confira com Bárbara Pataro Bucker.
Elói Dionísio Piva, ofm
Redator